O efeito das drogas sobre a sexualidade sempre gerou curiosidade entre as pessoas. Sua influência positiva sobre o desejo, as fantasias e as práticas sexuais povoa o imaginário humano há séculos. A ação das drogas sobre o comportamento sexual é algo bem documentado pela literatura especializada: o consumo de álcool e de outras drogas aumenta a freqüência de parceiros sexuais casuais e a chance de uma prática sexual de risco, isto é, sem medidas de proteção, como a camisinha.
Usuários de álcool acreditam que a substância melhora o desempenho sexual. Usuários crônicos de opiáceos (heroína) relatam experiências opostas. Consumidores de estimulantes crêem no aumento da atividade e do desempenho sexual, além da potencialização da libido e das sensações de prazer. O ecstasy é denominado 'a droga do amor'. A cocaína, tida como capaz de aumentar e retardar a chegada do orgasmo numa relação. Os estimulantes estão associados ao aumento da freqüência sexual e da prática de sexo sem proteção. Por outro lado, usuários crônicos da substância apontam para a diminuição do interesse e do desempenho sexual.
O entendimento da relação entre drogas e sexualidade é um aspecto importante para o processo de tratamento: a piora do desempenho sexual após a abstinência pode ser um fator preponderante para a recaída. Além disso, a associação entre orgasmo e fissura pelos usuários pode fazer com que a prática sexual facilite o retorno ao consumo.
Para investigar esses aspectos, os autores entrevistaram 464 usuários de substâncias psicoativas (álcool, opiáceos, ecstasy e cocaína) de diferentes orientações sexuais. A idade média dos participantes era de 38 anos.A maioria dos usuários de opiáceos relacionou o consumo de heroína à redução do desejo sexual (libido). Além disso, a prática sexual não representou um motivo para recaída entre esses indivíduos. O ecstasy foi a substância mais relacionada ao aumento da atividade e do prazer sexual. A cocaína e o álcool ocuparam posições intermediárias.
Quanto ao sexo sem proteção, os usuários de opiáceos foram os que se mostraram menos propensos ao sexo sem proteção (mesmo sob influência da substância) ou à busca de outros parceiros além do seu original. Os usuários de ecstasy foram os que mais fazem sexo quando utilizam a substância.
Tanto os homens quanto as mulheres sentem-se mais propensos à prática sexual quando sob efeito de estimulantes. Essa afirmação é mais comum entre os homens do que entre as mulheres usuárias de cocaína. Já entre os usuários de ecstasy, não houve diferença entre os sexos. O aumento do desejo sexual é percebido por pouquíssimos usuários de opiáceos, não importando o sexo. Os usuários de álcool ocuparam uma posição intermediária, sem diferença entre os sexos.
Os resultados mostram que a relação entre drogas e sexo é um problema importante para os usuários de drogas e que a natureza e a severidade destes problemas variam de acordo com o tipo de substância e o sexo. Os usuários de ecstasy são os que possuem maior associação, não havendo diferenças entre os sexos. O mesmo se repetiu com os usuários de cocaína, porém com menor intensidade. Além disso, isso não parece ser regra entre as usuárias da substância. Os resultados do presente estudo apontam para a necessidade de valorizar os aspectos da sexualidade para melhorar as chances de sucesso no tratamento destes indivíduos.
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